Suplementação de Nitrato e recuperação no Esporte
A recuperação dos danos e da fadiga causada pelo exercício possui um papel crucial na performance esportiva, muito importante para os resultados esportivos. Os treinamentos realizados promovem, por meio de repetidas sessões, o desenvolvimento de uma tolerância e a capacidade de se recuperar entre essas sessões é um fator essencial para que as adaptações ocorram.
Através do consumo de romã, chá-verde, cereja, cúrcuma, espinafre e beterraba, sabe-se que é possível reduzir a dor e rigidez muscular, além de diminuir a percepção de dor, lesões e modular a liberação de citocinas pró-inflamatórias e a capacidade antioxidante. De forma mais específica, o consumo agudo e crônico de produtos derivados da beterraba, fonte de nitrato, está associado à melhora do potencial de recuperação da fadiga muscular provocada pelo exercício.
Por isso, este nutriente tem sito amplamente estudado pela ciência do esporte e observou-se propriedades vasodilatadoras, de aumento da disponibilidade de oxigênio, tolerância ao exercício, redução do débito cardíaco, recuperação do batimento cardíaco e redução da dor muscular. Estes benefícios podem estar relacionados ao seu ciclo entero-salivar, no qual, após a absorção de nitrato e direcionamento às glândulas salivares, ele é convertido em nitrito pelas bactérias anaeróbicas localizadas na boca, podendo assim, se transformar em óxido nítrico.
Dessa maneira, mais estudos analisaram os efeitos benéficos do óxido nítrico e mostraram o papel em regular, durante e após o exercício, os efeitos metabólicos, melhorando a reserva de glicogênio e fosfocreatina musculares, reservas vasculares de regulação da circulação sanguínea, de controle das células do sistema imune, visando propriedades anti-inflamatórias e de contração muscular, influenciando os níveis de glicose e cálcio, favorecendo a biogênese e a consequente respiração mitocondrial, reduzindo a necessidade pelo uso do oxigênio.
Diante destes fatos, uma revisão sistemática foi realizada com o objetivo de compreender o impacto do consumo de nitrato nos fatores de recuperação da fadiga induzida pelo exercício. Identificou-se que mais de 60% dos artigos inclusos na pesquisa observaram efeitos positivos do consumo de nitrato nos indicadores de recuperação após a prática de exercício. Todavia, a heterogeneidade das doses consumidas nos diferentes estudos, assim como as características pessoais, estímulos à fadiga e variáveis distintas utilizadas foram impedimentos ao estudo para que se comprovasse a efetividade deste consumo nos marcadores de recuperação.
Em relação às respostas cardiovasculares após a ingestão de nitrato, diversos estudos mostraram a capacidade de redução da pressão sanguínea e do batimento cardíaco por meio da vasodilatação, promoção da angiogênese e melhora da perfusão sanguínea ao tecido muscular e da função endotelial, reduzindo a resistência periférica. Além disso, seu consumo melhorou a eficiência de contração das fibras musculares, favorecendo a saída de cálcio do retículo sarcoplasmático, a oxigenação muscular e sua utilização, melhorando a performance.
A manutenção da dor também é tida como uma variável importante na recuperação e performance, a qual está relacionada à contração muscular, associada a uma resposta às alterações associadas à função muscular à medida que se aumenta a pressão intramuscular, o calor, níveis de metabólitos e a deformação dos tecidos durante o exercício físico. Sendo assim, os estudos mostraram retardo das dores musculares e da dor por pressão por meio do consumo de nitrato, além de seu consumo levar ao aumento de proteínas mitocondriais, as quais melhoraram a função neuromuscular após o exercício e a ressíntese proteica, aumentando a capacidade de saltos e contratilidade isométrica.
Entretanto, não foi observado melhora significativa dos marcadores de recuperação do exercício após consumo de nitrato, pois os biomarcadores, como creatina quinase, lactato desidrogenase, proteína C-reativa e citocinas pró-inflamatórias (IL-8 e IL-6) permaneceram inalteradas. Contudo, os níveis de cortisol abaixaram, estando associado à maior velocidade de recuperação e menor suscetibilidade a doenças.
Quanto às doses recomendadas, os estudos mostraram que altas doses de 8 a 16 mmol de nitrato são capazes de aumentarem os níveis sanguíneos de óxido nítrico e causarem os efeitos positivos desta suplementação. Porém, a suplementação aguda deve ser realizada em doses relativamente maiores comparada a dosagem crônica de nitrato, sendo de 12,9 mmol a 20,5 mmol administrados em uma dose de 2 a 3h antes do exercício e 3,4 mmol a 12,5 mmol por pelo menos 2 vezes ao dia, durante 4 a 6 dias, respectivamente.
Ainda, o uso de enxágues bucais antibacterianos estiveram relacionados à redução da eficácia do consumo de nitrato em relação aos benefícios esperados, pois são capazes de promover o desequilíbrio das bactérias localizadas na boca, reduzindo a conversão de nitrato em nitrito e consequentemente, dos valores de óxido nítrico circulante.
Sendo assim, sabe-se que os efeitos da dose de nitrato na recuperação da fadiga podem variar dependendo do uso crônico ou agudo, do tipo de exercício e de contração muscular, se excêntrica ou concêntrica, dos indicadores de fadiga muscular e do momento que é ingerido, podendo ser antes, durante ou após o treino ou competição. Mais estudos são necessários, portanto, para que se aprofunde os conhecimentos quanto a esta suplementação em diferentes modalidades esportivas, levando em consideração os efeitos na inflamação, nos danos musculares, na fadiga central e periférica e os possíveis riscos do excesso de seu uso.
Fonte: Gamonales JM, Rojas-Valverde D, Muñoz-Jiménez J, Serrano-Moreno W, Ibáñez SJ. Eficácia da Ingestão de Nitrato na Recuperação da Fadiga Relacionada ao Exercício: Uma Revisão Sistemática. Int J Environ Res Saúde Pública. 23 de setembro de 2022; 19(19):12021.