Baixa disponibilidade energética em atletas: Compreendendo os impactos da redução do consumo alimentar

O termo disponibilidade energética foi introduzido na nutrição esportiva como forma de refletir a energia disponível capaz de dar suporte às funções fisiológicas do organismo. Todavia, o consumo energético insuficiente após o uso de energia para a execução do exercício gera um déficit calórico, o qual resulta na disfunção fisiológica e funcional e consequentemente, na síndrome da Deficiência Energética Relativa no Esporte (REDs).

O Comite Olímpico Internacional observou os impactos negativos desta baixa disponibilidade energética (LEA) na saúde dos atletas, estando esses associados tanto a homens quanto a mulheres, sendo eles atletas, amadores ou profissional fisicamente ativos, como militares. Nesse sentido, algumas consequências analisadas foram a disfunção menstrual, prejuízo da saúde óssea, cardiovascular, do sistema imune, da síntese proteica e da taxa metabólica.

Ainda, durante períodos de redução da necessidade energética, o organismo apresenta a capacidade de dividir a energia ofertada para suprir os processos biológicos essenciais, adaptando-se à LEA e reduzindo a energia direcionada para processos que são temporariamente desnecessários.

Sendo assim, visando identificar a presença de REDs para prevenir consequências negativas à saúde e performance dos atletas, sabe-se que ferramentas clínicas, como a Ferramenta de Avaliação Clínica de REDs e o Questionário da Baixa Disponibilidade Energética em Mulheres podem dar ao profissional acesso ao risco do atleta de desenvolver esta síndrome, sendo o cálculo de disponibilidade energética um meio passível de erros e desafios metodológicos.       

Além disso, outros indicadores que sugerem a LEA são complicações funcionais, como disfunção menstrual, redução da densidade mineral óssea, baixo IMC, problemas gastrointestinais e redução da temperatura corporal; marcadores bioquímicos, como níveis de testosterona, insulina, ferritina, cortisol e hormônio GH; mudanças de atitudes, como restrição alimentar e prática de exercício como forma de compensar a ingestão alimentar e mudanças fisiológicas, como ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração e distorção de imagem.        

Ainda assim, a baixa disponibilidade energética é considerada a principal causa de REDs apresentada pelos atletas e pode ser o resultado da redução do consumo pelos atletas de forma não intencional, como através do aumento do volume de treino, da falta de autonomia para as escolhas alimentares por questões financeiras e de falta de conhecimento sobre alimentação e nutrição, poucas janelas para refeições, mudanças na alimentação devido viagens e insegurança alimentar e nutricional.

Além do mais, atletas podem entrar em uma restrição alimentar de forma intencional visando manipular a composição corporal para garantir a performance, principalmente em esportes, como na corrida de longa distância, ciclismo na montanha ou na rua, salto de esqui, em esportes subdivididos por categorias de peso, como judô e boxe e esportes que envolvem a estética, como patinação, ginástica, nado sincronizado e fisiculturismo.

Os transtornos alimentares devido a preocupações com o controle de peso e gasto de calorias consumidas através do exercício extenuante também podem atingir homens atletas, principalmente em esportes que levam muito em consideração o peso para um melhor desempenho, além da prática inadequada de exercício por meio de programas de treinamento que se intensificam não sendo acompanhados por uma mudança na oferta energética.

Dessa maneira, estratégias nutricionais que busquem corrigir esta deficiência energética são necessárias, focalizando no aumento da ingestão energética e na redução de energia utilizada através do exercício de forma excessiva. Assim, busca-se minimizar a deficiência energética em 24h, consumindo energia suficiente antes do exercício e ‘snacks’ em intervalo de 3 a 5h e evitar períodos de baixa disponibilidade de carboidrato antes, durante e depois do exercício para manter a função do sistema imune e das proteínas no organismo.

Além disso, objetiva-se reduzir o consumo de fibras para diminuir a saciedade, aumentando assim o consumo de energia e evitar seu impacto negativo na reabsorção de estrógeno, resultando na disfunção hormonal. Por fim, garantir o consumo adequado de nutrientes para a manutenção dos ossos, considerando os níveis de vitamina D e a suplementação, caso necessária.

Logo, deve-se atentar à relação do atleta quanto à alimentação e o exercício para poder compreender as chances do desenvolvimento de ações que irão resultar na baixa disponibilidade energética e interferir no desempenho esportivo devido a síndrome REDs. Entretanto, mais estudos precisam ser realizados visando observar o impacto da LEA em homens e como se diferem das atletas mulheres.

 

Fonte: KUIKMAN, M. A..; BURKE, L. M. Low Energy Availability in Athletes: Understanding Undereating and Its Concerns. Nutrition Today, v. 58, n. 2, p. 51-57, 2023.

Posts relacionados