A nutrição é uma das bases na qual a performance esportiva está ancorada, pois por meio dela é possível desenvolver boa recuperação e adaptação desejáveis após os treinos, aumentando a tolerância ao exercício e a função dos músculos. Sendo assim, os atletas, influenciados por diferentes fatores determinantes da escolha alimentar, aderem a dietas objetivando a melhora do desempenho e maior conforto, principalmente gastrointestinal.
Ainda assim, a atividade física, mesmo sendo considerada essencial à saúde, quando praticada de forma intensa, resulta em distúrbios no sistema imune e no aumento da permeabilidade intestinal, impactando na absorção dos alimentos, como na insuficiente oferta de enzimas e funcionalidade dos transportadores do intestino, desenvolvendo uma intolerância alimentar.
Sabe-se que, aproximadamente, 20% da população mundial apresenta esse quadro e juntamente com os alimentos que causam alergia alimentar, sintomas como dor abdominal, fadiga, dores de cabeça, problemas cognitivos e diarréia aparecem horas ou dias após sua ingestão. Sendo assim, os atletas buscam regular a intensidade do exercício à quantidade, qualidade e ‘timing’ dos alimentos, pois eles podem impactar negativamente na microbiota, genética e no sistema imune, por exemplo, sendo capazes de resultar em uma resposta indesejável ao organismo e prejudicar a performance. Neste sentido, estudou-se alguns fatores influenciadores dessas escolhas alimentares, assim como dietas aderidas pelos atletas e recomendações voltadas para a nutrição esportiva.
Alguns fatores externos e internos como o custo, conhecimentos dietéticos, motivação, hábitos alimentares, praticidade, marketing, cultura, crenças, religião, disponibilidade, apetite, fome, sabor, preferências, peso e composição corporal, assim como os distúrbios gastrointestinais, alergias e intolerâncias alimentares são critérios levados em consideração pelos atletas e colocados em escala de prioridade de forma individual buscando atingir as metas no esporte.
De forma mais detalhada, os atletas tendem a consumir mais gorduras, carboidratos, proteínas e fibras como meio de controlar o apetite e regular o balanço energético após o exercício. Além disso, altas altitudes, ambientes quentes e a prática intensa desse promove a alteração da temperatura corporal e dos hormônios envolvidos na manutenção do apetite, além de gerar adaptações fisiológicas, os quais diminuem o fluxo sanguíneo no intestino e resultam na supressão do apetite e em mudanças no consumo alimentar.
Além do mais, as preferências alimentares baseadas no conhecimento sobre o alimento e sua importância no exercício de acordo com a fase de competição é outro fator impactante, sendo considerado de maior influência comparado ao sabor, aroma, textura e aparência dos alimentos. Isto porque o propósito de manter a composição corporal e melhorar a performance possuem maior influência na escolha comparado à satisfação e prazer de comer. No entanto, essa tendência é diferente de acordo com o tipo de exercício praticado, sendo mais visto em atletas de endurance do que em exercícios resistidos.
Ainda, em atletas mais novos, o impacto da escolha alimentar dos esportistas mais velhos mostrou-se determinante, além do papel do marketing, da mídia e das propagandas. Não obstante, a consciência da necessidade da realização de uma dieta restrita objetivando o controle de peso revelou ser capaz de desenvolver riscos de distúrbios alimentares e que o consumo inconsciente e exagerado dos alimentos devido grande oferta e praticidade envolve aspectos culturais como o estilo de vida passado de geração em geração, o qual cria uma tradição familiar cheia de valores, crenças e experiências que certificam as escolhas alimentares.
A dieta baseada na restrição ou inclusão de alguns alimentos visando a saúde e a redução dos sintomas gastrointestinais induzidos pelo exercício é um dos fatores mais relevantes e que atuam de forma direta nas escolhas alimentares. Nesse sentido, a adesão dos atletas às dietas sem glúten, mesmo sem apresentar a doença celíaca, intolerância ao glúten ou alergia ao trigo tem aumentado, fato observado através do crescimento em 110% no mercado de produtos dessa linha. Além disso, diante do fato desse mercado divulgar a ideia de que esses alimentos impedem o desenvolvimento de problemas gastrointestinais e da inflamação proporcionados pelo glúten e que estão associados à saúde e benefícios ergogênicos ao organismo, mais atletas têm começado a seguir este plano alimentar.
Entretanto, a dieta sem glúten não demonstrou nenhum benefício significante quando estudado em atletas de endurance, exceto a redução do consumo de fontes de carboidrato utilizado como estratégia para o retardo da fadiga, a ingestão hipercalórica que pode causar desconforto durante o exercício e uma possível deficiência de ferro, além de serem alimentos com baixa oferta de proteína, reduzindo o período de saciedade do atleta.
A dieta com alimentos fonte de FODMAPs, carboidratos fermentáveis de cadeia curta, tem sido aplicada pelos atletas como forma de reduzir os sintomas intestinais para a prática do exercício físico. Estudos mostram a redução desses sintomas em 15,5% após a retirada destes carboidratos, comprovando sua eficiência. Os leites fermentados, os quais possuem enzimas que ajudam na digestão podem ter efeitos nessa melhora também.
Já as dietas vegetarianas, seguidas por 8% da população esportista, apresenta benefícios como a oferta de carboidrato e consequente armazenamento de energia e possui caráter antioxidante e fitoterápico. Porém, os nutrientes encontrados nesses alimentos de origem vegetal são menos biodisponíveis, capazes de reduzir a entrega de nutrientes ao organismo e impactar negativamente os mecanismos que envolvem a musculatura e produção de energia.
Entretanto, mesmo que esses fenótipos sejam generalizados à população esportiva e baseados em indicadores e questionários já realizados, observa-se a relevância do genótipo nessas escolhas, enfatizando que os planos alimentares devem ser realizados de forma individualizada. Além disso, o organismo de cada atleta responde de forma diferente aos alimentos ingeridos e às interferências dos fatores internos e externos, sendo necessário o acompanhamento individual e a construção de uma dieta baseada em estratégias personalizadas para cada atleta visando seus objetivos e propósitos dentro do esporte praticado.
Fonte: MALSAGOVA, K. A. et al. Sports Nutrition: Diets, Selection Factors, Recommendations. Nutrients, v. 13, n. 11, p. 3771, 2021.