Nutrição para reabilitação de lesões musculares
Os altos volumes de treinamento e carga de competições do calendário competitivo dos atletas aumentam a ocorrência de lesões e consequentemente impactam negativamente na performance esportiva. Mesmo diante de estudos recentes com base na utilização de tecnologias e estratégias para prevenção de lesões, a incidência permanece constante, estimando-se a ocorrência de 3 a 5 milhões de casos por ano dentro do esporte, sendo maior em competições (72%) comparado aos treinamentos (21%).
Estudos mostraram que jogadores que participaram de dois jogos por semana tiveram maiores chances de se lesionarem comparados àqueles que jogaram somente uma partida devido à sobrecarga do músculo e falta de um período suficiente para a recuperação adequada. Sabe-se que o processo de reabilitação de lesões pelo esporte envolve, primeiramente, a fase de imobilização e atrofia, para consequente reparação tecidual, a qual permanece por dias a meses dependendo da gravidade e envolve a perda de massa muscular e alterações funcionais dos tecidos conjuntivos. Por isso, estratégias nutricionais são capazes de modular o sistema imune, controlando o catabolismo e a inflamação decorrente deste processo.
Já a segunda fase é referente a readaptação ao treino e melhora do fisiológico e emocional do atleta. A partir deste momento, o início da mobilização e estímulos do tecido afetado, como através do estímulo elétrico neuromuscular, é possível reorganizar o colágeno e reparar o tecido, sendo importante o estabelecimento de um programa de carga controlada com começo à medida que a região lesionada permitir esta execução.
Dessa maneira, o manejo da reabilitação tem sido relacionado a estratégias da fisioterapia e medicina do esporte, como a permanência em locais quentes ou frios, massagens, ondas de choque extracorporal e exercícios isométricos, medicamentos anti-inflamatórios e intervenções cirúrgicas.
Todavia, a nutrição no esporte também participa de uma importante intervenção não farmacológica durante os diferentes níveis de inflamação e processos de cura do tecido lesionado, sendo capaz de otimizar o manejo da inflamação e do estresse oxidativo, levando a um melhor reparo tecidual.
Sendo assim, a oferta de um aporte energético adequado aos atletas é essencial, buscando manter metas energéticas perto do balanço energético ou até sutilmente positivo dentro de 45 kcal/kg massa livre de gordura/dia para correta execução dos processos fisiológicos durante a reabilitação.
Ainda, durante o período de imobilização, um déficit energético de 20% pode levar à diminuição da síntese proteica muscular acelerando o catabolismo e contribuindo para prejuízos na insulina, IGF-1, saúde óssea, sistema cardiovascular, imunológico e resistência ao hormônio GH, por exemplo. Entretanto, mesmo diante de maiores necessidades energéticas devido aos processos envolvidos, o manejo adequado é importante para que se evite o ganho de massa gorda.
O desuso de tecidos musculares também é capaz de aumentar a resistência anabólica, resultando na atrofia muscular e na perda de 0,5% da massa muscular, além de impactar na força, degeneração neuromuscular, perda da densidade mineral óssea, maiores riscos de fraturas, resistência à insulina e intolerância à glicose, disfunção mitocondrial com aumento de radicais livres e resposta inflamatória, prejuízo no sistema cardiovascular e respiratório e desmineralização óssea, principalmente em atletas com transtornos alimentares ou em grande restrição energética associado a altas cargas de treinamento.
Por isso, o consumo de proteína é importante para se evitar a perda de massa muscular e beneficiar o reparo, processo inflamatório e a cura, levando em consideração o aumento das necessidades nutricionais neste período de reabilitação. Estudos têm mostrado que o consumo de 1,6 a 3g/kg/d e 0,3g/kg/refeição, incluindo a proteína antes de dormir e fontes de leucina, distribuída uniformemente entre a refeições, é capaz de aumentar a síntese proteica muscular em 25%.
Observou-se que durante a imobilização houve diminuição em 24% dos estoques de creatina muscular, sendo o consumo de creatina usado de forma crônica relacionado à recuperação de pós-operatório ortopédico, distrofia muscular, imobilização e atrofia devido desuso do músculo, promovendo adaptações fisiológicas durante a reabilitação em pacientes com reduzida capacidade de contractilidade do músculo esquelético. As doses recomendadas são de 0,1g/kg/d para a manutenção da massa, força e funcionalidade muscular.
Ainda, a manutenção de vitamina D em níveis adequados impactou positivamente na diminuição em 20% das fraturas por estresse e deficiências deste nutriente associaram com maiores casos de lesão e infecção do trato respiratório.
Já o uso de ômega-3, megadoses e grandes quantidades de frutas e verduras fonte de nutrientes com características anti-inflamatórias, durante os primeiros dias após lesão muscular, resultou em prejuízos do sistema de reabilitação devido redução do processo inflamatório que é necessário para reparação e regeneração do tecido. Entretanto, pouca evidência há quanto ao uso deste no tratamento de lesões, recomendando-se uma baixa proporção de ômega-6 para ômega-3.
Dessa mesma forma, o uso de HMB, metabólito derivado da leucina, mesmo possuindo efeitos na síntese proteica e nos danos provocados pelo exercício, não se recomenda de forma confiante para atletas lesionados, pois os efeitos podem não ser mais efetivos do que seguir uma dieta que possua a recomendação de proteína adequada.
Assim, estratégias nutricionais podem beneficiar os processos de reabilitação de tecidos lesionados de atletas, incluindo a disponibilidade energética e dietas com quantidades adequadas de carboidrato e proteína, buscando oferecer suporte para prevenção de déficit nutricional.
Fonte: Giraldo-Vallejo JE, Cardona-Guzmán MÁ, Rodríguez-Alcivar EJ, Kočí J, Petro JL, Kreider RB, Cannataro R, Bonilla DA Nutritional Strategies in the Rehabilitation of Musculoskeletal Injuries in Athletes: A Systematic Integrative Review. Nutrientes. 2023 fev 5; 15(4):819.