O suco de cereja tem sido amplamente estudado, visando compreender seus benefícios para a recuperação após os danos provenientes do exercício físico. Diante disso, um estudo observou que o consumo de cerejas doces, sendo de 45 unidades por dia, durante 28 dias contribuiu para o desenvolvimento dos efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, podendo ser associados à redução dos danos musculares provocados pelo exercício, beneficiando assim, a recuperação.
Sabe-se que tanto as cerejas doces quanto as azedas são capazes de promover os benefícios ao organismo quando consumidos em quantidades adequadas mesmo diante da diferença de concentração em relação aos seus compostos fenólicos e demais compostos presentem em suas matrizes alimentares, além da alteração nutricional devido às safras. Dessa forma, é possível encontrar no mercado mais sucos feitos à base de cereja azeda comparado a doce devido ao custo-benefício, praticidade e disponibilidade de matéria prima ao invés de ser o resultado da preferência de seu uso devido maior concentração de fenólicos.
Além disso, o uso comum da cereja de Montmonency azeda e doce, as quais podem ser encontradas no Estado de Michigan, nos Estados Unidos e em diversas localidades geográficas da Europa, não deprecia o cultivo de outros tipos de cereja para a busca deste benefício.
Diante disso, estudos realizados mostram que o consumo de 2 porções de 355 ml ou 237 ml de suco de cereja de Montmorency azeda fresca e congelada, que representam, aproximadamente, 100 unidades por dia, devem ser consumidos durante um período que antecede a prática do exercício, continuando por alguns dias após sua realização, assim como 2 porções de 30 ml por dia de suco de cereja Montmorency concentrado, 180 unidades por dia, têm sido relacionados com a recuperação após o exercício.
Entretanto, outros estudos têm observado a prevalência dos efeitos antioxidantes provenientes do suco feito das cerejas frescas e congeladas em relação ao suco concentrado ou em pó de cereja azeda durante o período de 5 a 7 dias. Porém, quando o consumo foi realizado para mais de 7 semanas, o suco de cereja concentrado também se mostrou benéfico, sendo capaz de contribuir com efeitos positivos na recuperação após o exercício, sendo realizado através de uma maior duração de seu consumo previamente.
Além disso, descobriu-se que os fitonutrientes presentes no suco de cereja podem ser pouco biodisponíveis e que são parcialmente degradados devido processamento para sua extração, sendo necessário o consumo de uma dosagem dobrada, visando obter os mesmos benefícios. Ainda, a exposição ao calor e à luz solar reduzem o tempo de prateleira devido degradação destes, sendo a refrigeração uma das estratégias capazes de manter as propriedades deste suco.
Desse modo, também se observa que as antocianinas contidas no suco concentrado foram de 3,3 a 6,8 vezes maiores que os valores encontrados no pó e na fruta fresca e congelada, podendo ser encontradas em maior concentração na casca das cerejas azeda e Montmorency. Todavia, devido às pesquisas visando analisar os benefícios à saúde e na recuperação através do consumo do suco de ambas as formulações serem limitadas, observa-se a dificuldade de se obter conclusões práticas sobre este assunto.
Já em relação à concentração de compostos fenólicos por porção presente nos sucos de cereja concentrado e fresco, obtém-se valores de 28 a 65% a mais comparado à versão de cereja azeda em pó. Ainda assim, possuem efeitos agudos devido ao aumento dos níveis plasmáticos de 2 a 3 vezes em 1 a 2 horas através do consumo de 30 a 60 ml de suco concentrado, os quais são reduzidos após 8 horas.
Diante desses benefícios, realizou-se uma revisão sistemática de estudos feitos em seres humanos objetivando analisar o impacto das variações de cereja Montmorency, sendo elas em gel concentrado, fresco e congelado, em pó, em cápsula e diluído em uma bebida, em diferentes doses e em diversas modalidades esportivas, como no ciclismo, corrida, pliometria e nos exercícios excêntricos isolados ou isotônicos, envolvendo 1 ou 5 grupos musculares. Através destes, provocou-se a fadiga, a inflamação e a disfunção muscular, os quais puderam ser observados por meio dos indicadores de recuperação, como a contração máxima voluntária (MVC) ou a performance nos pulos realizando-se saltos contramovimento (CMJ), a fadiga e a medida do PCR (inflamação sistêmica), no 1° e 2° dia após a prática.
Dessa forma, concluiu-se que o consumo do suco de cereja dias antes do exercício protege a função muscular em diversas modalidades, sendo os índices de fadiga e inflamação os que obtiveram respostas mais equivocadas. Os estudos consideram necessário a utilização do suco de cereja azeda no formato de gel concentrado por mais de 3 dias pré-exercício, visando os efeitos positivos sobre a recuperação. Todavia, mesmo que os benefícios a respeito da continuação de seu consumo após a prática do exercício não estejam bem estabelecidos, sabe-se que a melhor estratégia é continuar com o consumo durante todo o período de competição, no qual não é possível tempo suficiente para a recuperação adequada e completa entre as sessões de exercício.
Ainda assim, observou-se alterações no MVC, CMU, na fadiga e no PCR após 24 e 48 horas do exercício, associando o consumo do suco concentrado e do fresco e congelado com a melhora na recuperação (achados em 9 estudos de 11 selecionados), enquanto a cereja azeda concentrada em gel não obteve o mesmo impacto, assim como o conteúdo de compostos fenólicos pareceu não estar relacionado aos seus efeitos pós-exercício, sendo maior no pó de cereja azeda. Analisou-se também a diminuição dos níveis de cortisol após 24 a 48 horas, porém sem influenciarem na determinação da força, fadiga, inflamação e biomarcadores de dano muscular.
Outro estudo realizado comparou os efeitos da dosagem prévia ao exercício por 3 dias de suco de cereja fresca e congelada, seguida por 4 dias pós-exercício à dosagem prévia de 4 dias de suco de cereja concentrado, seguida por 3 dias pós-exercício e observou-se a melhora da força e fadiga no primeiro caso. Ainda, em relação ao grupo controle, apresentou perda de força de 30% e 25% no primeiro dia e de 27% e 22% no segundo dia, respectivamente. Já entre si, viu-se a perda de 12% e 24% no primeiro dia e 27% e 22% no segundo dia, concluindo resultados similares.
Analisou-se que esses resultados são condizentes com a literatura e indicam que o suco de cereja fresca e congelada, mesmo que apresente valores próximos de seu impacto quanto a diminuição dos níveis de força e fadiga comparado ao suco concentrado, possui efeitos mais rápidos nos níveis totais de antioxidantes em relação ao suco concentrado e em pó.
Sendo assim, observa-se a necessidade de pesquisas futuras a serem realizadas visando compreender melhor o tipo de cereja que possui o maior efeito na recuperação do exercício, a dose mais efetiva, seus mecanismos e a possibilidade de uma suplementação dias antes da competição, mesmo que não sejam os suficientes previstos nos estudos já realizados.
Contudo, já é estabelecido a necessidade do consumo do suco de cereja dias antes à prática do exercício para que as mudanças nos marcadores antioxidativos ou de inflamação sistêmica sejam induzidos, sendo recomendado o uso de, no mínimo, 1 porção por dia durante dias que antecedem a competição para a promoção da recuperação acelerada após o exercício.
Referência:
MCHUGH, M. P. “Precovery” versus recovery: Understanding the role of cherry juice in exercise recovery. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, v. 32, n. 6, p. 940-950, 2022