Própolis para a saúde e performance física

Já está bem documentado na literatura que os produtos da abelha são potentes antioxidantes, cujos efeitos são dependentes da sua composição química. Em geral, os efeitos antioxidantes do pólen da abelha se dão pelo seu conteúdo de ácidos fenólicos. Na geleia real, sua capacidade antioxidante é atribuída ao seu conteúdo de ácido 10-hidroxidecanóico e aminoácidos (prolina, cistina e cisteína), seguido do conteúdo de compostos fenólicos. No própolis sua atividade antioxidante se dá pelo seu conteúdo de polifenóis e flavonoides. Em todos os produtos da abelha, esses compostos são conhecidos como compostos bioativos com importante ação no organismo humano.

Os mecanismos pelos quais os produtos da abelha revertem o dano oxidativo parecem envolver a redução da peroxidação lipídica (MDA e TBARS), a redução dos radicais livres e o aumento da atividade das enzimas antioxidantes (superóxido dismutase, catalase, glutationa peroxidase e glutationa transferase) no sangue e em diversos órgãos. No entanto, é importante enfatizar que, dos produtos da abelha, o própolis é o mais estudado e é o que tem maior poder antioxidante devido ao seu alto teor de compostos fenólicos quando comparado com o pólen da abelha e a geleia real. Porém é importante enfatizar que a geleia real contém outros compostos bioativos que potencializam seu caráter antioxidante.

Um dos efeitos que atualmente têm sido atribuídos ao própolis é na saúde intestinal. Devido à sua atividade antimicrobiana, possui efeito contra uma grande quantidade de bactérias patogênicas presentes no intestino, incluindo Enterococcus faecalis, Escherichia coli, Helicobacter pylori, Listeria monocytogene, Neisseria gonorrhoeae, P. larvae, Staphylococcus aureaus, Staphylococcus epidermides, Streptococcus pyogenes e Vancomycin-resistant Enterococcus faecium.

Estudos recentes demonstram que os polifenóis presentes no própolis agem como probióticos (probiotic like effect) porque são seletivamente metabolizados pela microbiota intestinal, inibindo o crescimento de bactérias patogênicas e suprimindo a adesão dos patógenos nas células intestinais. Além disso, parece que o própolis exerce uma importante função no fortalecimento da barreira de proteção intestinal. Estudos sobre os efeitos do própolis na microbiota fornecem novos “insights” no potencial de sua aplicação para a saúde humana, particularmente em condições inflamatórias como a síndrome do intestino irritável (SII) e retocolite ulcerativa (RCU).

O Própolis é uma mistura de substâncias resinosas de vegetais, pólen, cera e secreções salivares das abelhas. Desta forma, para as abelhas, serve para vedar frestas e proteger a colmeia de possíveis ataques de outros insetos e das adversidades climáticas. Já para o corpo humano, é uma substância rica em benefícios para a saúde. Existem inúmeros tipos e qualidades de própolis, que possuem composição química variável dependendo da região, temperatura e local de onde é extraído. Só no Brasil (que é região tropical), há 13 tipos de própolis, incluindo o própolis verde, vermelho e marrom, que se diferem no seu conteúdo de polifenóis e flavonoides.

Própolis verde: é proveniente do alecrim do campo. Este tipo de própolis possui como marcador químico um composto fenólico denominado Artepillin C, cuja patente de descoberta pertence ao Japão. Esse composto químico (denominado ácido 3,5-diprenil-4-hidroxicinâmico) foi capaz de inibir o crescimento de tumores em testes in vitro (fora do organismo, realizados no laboratório). Esse tipo é produzido fundamentalmente no sul, leste, centro e zona da mata de Minas Gerais, leste de São Paulo, norte do Paraná e em regiões serranas do Espírito Santo e Rio de Janeiro. O própolis verde é conhecida pelas suas propriedades biológicas, tais como: antimicrobiana, antioxidante, anti-inflamatória, imunomodulatória, cicatrizante, anestésica, anticâncer e anticariogênica.

Própolis vermelho: É um tipo de própolis encontrada nas regiões Norte e Nordeste do Brasil e presente, por exemplo, nos manguezais dos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A resina coletada pelas abelhas para sua fabricação é proveniente de uma planta conhecida popularmente como rabo de bugio. Essa planta secreta exsudato (secreções) de cor vermelha (o que explica sua coloração) pelos buracos feitos por insetos em seu caule e as abelhas visitam e recolhem essa resina para a fabricação da própolis. Essa própolis possui como constituinte majoritários os compostos fenólicos, do tipo flavonóides, antraquinonas e fenóis. Possui constituintes jamais encontrados em outros tipos de própolis e, extratos desta, mostraram atividades antitumorais e antioxidantes.

Própolis marrom: é o mais conhecido e tem origem em muitas plantas. Apresenta efeitos antioxidantes e antimicrobianos. A própolis marrom pode ser encontrada na região Sudeste e Sul do Brasil.

Geoprópolis: é o termo utilizado para diferenciar a própolis produzida pelas abelhas sem ferrão daquele produzido por outras espécies. Esse tipo de própolis é produzido, por exemplo, pelas abelhas sem ferrão Mandaçaia, Manduri e Jataí. No Brasil, índios usavam a geoprópolis na fabricação de ferramentas e como dádiva em sepultamentos. Apresenta atividade antimicrobiana e antioxidante.

Por mais que existam diferentes tipos, a composição do própolis é, basicamente, 50% de resina e bálsamo vegetal, 30% de cera, 10% de óleos essenciais e aromáticos, 5% de pólen e 5% de outras substâncias, como resíduos orgânicos. O restante se difere na sua quantidade de compostos bioativos.

Importante ainda salientar que o própolis possui em sua composição fitoquímicos lipossolúveis. Isso significa que a própolis com álcool é capaz de absorver melhor as substâncias bioativas por ter uma concentração maior de resina. Então, se você puder escolher, escolha sempre o própolis com álcool!

Recentemente, vários estudos em humanos investigaram o efeito do própolis de diferentes regiões geográficas em parâmetros metabólicos em diferentes populações. No entanto, os estudos existentes apresentam resultados contraditórios. As discrepâncias entre as evidências podem estar relacionadas à diferença na duração da suplementação, região de origem e dosagem de própolis, características da população e tamanho da amostra dos ensaios. Portanto, com evidências acumuladas, uma meta-análise foi realizada para determinar a eficácia do própolis na inflamação, controle glicêmico, estresse oxidativo e perfis lipídicos, enzimas hepáticas e controle de peso. O estudo concluiu que a suplementação de própolis reduziu a glicemia de jejum, a insulina, a HbA1C (hemoglobina glicada) e também diminuiu TNF-α, TGO, TGP, IL-6, PCR, mas não alterou HOMA-IR, biomarcadores de oxidativos de estresse (MDA, TAC), perfis lipídicos (TG ,HDL-C,LDL-C,TC) e parâmetros de peso (peso, IMC).

Por conter substâncias potencialmente antioxidantes e anti-inflamatórias, sugere-se que o própolis pode atenuar o dano induzido pelo exercício modulando a resposta adaptativa, contribuindo para a melhora da performance esportiva.

Um estudo publicado em 2021 demonstrou que a suplementação por 4 semanas de 900mg de própolis reduziu marcadores inflamatórios (IL-6) e marcadores de estresse oxidativo (MDA e índice de estresse oxidativo). Além disso, aumentou os níveis de glutationa e a capacidade antioxidante total. Porém, não foi encontrada melhora nos índices de performance como VO2max, potência anaeróbia e índice de fadiga e nem na composição corporal (% de gordura e massa livre de gordura).

Diversos estudos ainda demonstram que, além da sua potente atividade antioxidante e anti-inflamatória, o própolis possui ação antibactericida, antifúngica, antiviral, antitumoral e hepatoprotetora. Assim, apesar de ainda não termos documentado os efeitos ergogênicos do própolis diretamente na performance esportiva, seu uso é justificado devido aos seus benefícios na modulação no estresse oxidativo, processo inflamatório e saúde intestinal.

Fonte:

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