Compostos Bioativos Moduladores da Saúde Cerebral

 O consumo de frutas e verduras, por serem ricas em compostos bioativos, pode impactar positivamente na redução do risco e retardamento de doenças neurodegenerativas através de ações neuroprotetoras contra a toxicidade e inflamação, além da capacidade de melhorar a memória, função cognitiva e aprendizagem.  

Sabe-se que a capacidade de produção dos efeitos antioxidantes no organismo depende da biodisponibilidade destes compostos no organismo. Estes são hidrolisados pela microbiota e enzimas intestinais, tornando-se metabólitos secundários e possíveis de atravessar a membrana das células epiteliais ou de serem transportadas ativamente por proteínas. Entretanto, o grupo das antocianinas são consideradas como menos biodisponíveis comparado aos demais polifenóis mediante sua degradação em pH neutro, característico de parte do intestino. Para que os polifenóis cheguem até o cérebro é necessário ultrapassar a barreira composta pela membrana das células endoteliais que apresentam a função de isolamento do sistema nervoso central. Esta passagem é dependente da lipossolubilidade dos compostos, sendo a forma apolar de maior impacto. 

 

Ainda assim, estudos mostram a associação da ingestão de polifenóis (catequinas, teaflavinas, flavonóis e ácido hidroxibenzóico) a menores casos de demência, à melhora no desempenho cognitivo e na memória verbal e de linguagem.

Um dos extratos ricos em polifenóis mais estudos tem sido o Gingko biloba, estando relacionado a efeitos na aprendizagem, memória e concentração, principalmente em indivíduos que apresentam problemas cognitivos. Memória de curto-prazo e a aprendizagem foram beneficiados por meio de sua suplementação, estando este relacionado à melhora do sistema de memória devido transmissão mais efetiva das informações através do circuito hipocampal.

As frutas vermelhas mostraram-se benéficas, revertendo a degradação progressiva dos neurônios devido a idade. O consumo de mirtilo resultou na melhora da função da memória de curto-prazo durante 12 semanas de estudo e de longo-prazo durante 8 semanas. Neste sentido, também foi observado os efeitos do consumo do chá e suco de romã ou de flavonóis, como quercetina, rutina e fisetina.  A fisetina, encontrada em morangos, associou-se com a melhora de reconhecimento em modelo animal por meio da ativação de ERK e CREB, fatores transcricionais relacionados à manutenção da plasticidade das sinapses e da memória.

Estudos em humanos têm demonstrado a ação do cacau na melhora do fluxo sanguíneo, capaz de interferir indiretamente na função cerebrovascular, promovendo a neurogênese e manutenção do desempenho cognitivo.

Além disso, o consumo de chá verde tem sido relacionado à redução da degradação de neurônios dopaminérgicos por meio de toxinas em animais e de ácido ferúlico na proteção dos efeitos da beta-amiloide.

A administração via oral de epigalocatequina-3-galato esteve associada à diminuição de alfa e beta-amiloide, resultando na melhora da cognição, assim como o ácido gálico que reduziu a deterioração cognitiva por meio da redução dos níveis de suas moléculas alfa e beta. Alguns polifenóis, portanto, apresentam esta ação anti-amilogênica através da prevenção de fibrilações ocorridos nesta proteína.

Estudos mostram também como os polifenóis apresentam efeitos neuroprotetores desativando fatores que mediam a inflamação no sistema nervoso central. Esta propriedade anti-inflamatória pode ser devido ao papel inibitório de síntese e ação de IL-1β, TNF-α, iNOS, produção de ácido nítrico, espécies reativas de oxigênio e de NF-κB. A quercetina, por exemplo, esteve relacionada à redução da produção de óxido nítrico e da expressão do gene iNOS, impedindo o desenvolvimento de danos neuronais. Já a epicatequina e catequina associaram-se com a inibição de TNF-α, mostrando o impacto benéfico da ingestão destes compostos bioativos na ação anti-inflamatória. Já os mirtilos mostraram resposta de inibição do óxido nítrico, IL-1β e TNF-α.

Os polifenóis ainda possuem o papel de manutenção da ação de enzimas, como Akt, relacionada à neuroproteção através da inibição de morte celular. Com a ingestão de resveratrol observou-se combate ao estresse oxidativo causado pelo H2O2 por meio da ativação de Nrf2, ativando vias de resposta ao estresse gerado.  A proteína SIRT1, responsável pela sobrevivência, proliferação das células e regulação de doenças neurodegenerativas, foi impactada positivamente pela ingestão de resveratrol de forma direta e indiretamente por meio da ativação de vias, como cAMP, Epac1 e AMPK.

Sendo assim, os polifenóis apresentam a capacidade de interação com vias de sinalização neuronais e têm o potencial de prevenir doenças neurodegenerativas que ocorrem naturalmente devido a idade, melhorando o desempenho cognitivo. Assim, podem atuar no manejo de declínios cognitivos, doenças, como Alzheimer e Parkinson, neurotoxicidade causada por danos, toxinas ou estresse oxidativo e neuroinflamação, melhorando a memória, aprendizagem, atividades motoras e neurogênese.

Fonte: VAUZOUR, David; KERR, Jason; CZANK, Charles. Plant polyphenols as dietary modulators of brain functions. In: Polyphenols in human health and disease. Academic Press, 2014. p. 357-370.