Muitas competições subdividem os atletas em categorias, as quais variam de acordo com o peso, tornando-as mais seguras por permitir a prática do esporte entre indivíduos com características físicas similares, como no boxe, levantamento de peso olímpico, remo e futebol americano.
Ainda assim, as competições que possuem maior quantidade de níveis determinados por limite de peso permitem com que os atletas se adequem facilmente, sem a necessidade de manipularem a massa corporal através de estratégias de perda de peso a curto ou longo prazo para serem aceitos. Entretanto, alguns deles comumente desejam competir em categorias inferiores ao adequado ao peso habitual, buscando ganhar vantagens, tanto psicológica quanto física, em relação aos outros competidores. Desse modo, essas estratégias são realizadas, porém nem sempre acompanhadas de profissionais, tornando-as inseguras à saúde e performance.
Em 1996, o American College of Sports Medicine (ACSM) criou um guia que enfatizava a necessidade dos atletas de seguirem cronogramas de manipulação da massa corporal que fossem realizadas de forma gradual, desencorajando as estratégias agudas feitas para a rápida perda de peso, as quais diminuem a saúde e geram implicações à performance. As manipulações da massa corporal à médio e longo prazo, desenvolvem benefícios psicológicos, como foco, comprometimento e confiança e quando realizadas de forma crônica, entre semanas e meses, permitem a perda de massa gorda e sua substituição pela massa magra, sendo benéfico principalmente aos esportes de remo, judô e luta, em que a massa e força muscular são determinantes na performance do atleta.
Contudo, o déficit calórico crônico, o qual ocorre em alguns casos de atletas que seguiram estratégias a longo prazo de forma equivocada, diminui a oferta de energia e pode prejudicar a saúde e performance dos atletas, pois impacta negativamente no metabolismo, no sistema endócrino e reprodutivo, no crescimento de crianças e adolescentes, no desenvolvimento da dislipidemia e na síntese proteica em resposta ao treino resistido, além da redução da massa óssea e da taxa metabólica basal.
Por outro lado, a rápida perda de massa corporal por meio de estratégias, como desidratação intencional, redução dos estoques de glicogênio e maior estímulo do trato gastrointestinal horas ou dias antes das competições, além dos vômitos, utilização de diuréticos e pílulas dietéticas e a permanência em ambientes estressores como as saunas, minimiza o peso total enquadrando o atleta em categorias que estariam abaixo do ideal ao seu peso habitual como desejável, porém se realizada constantemente, como em esportes que possuem competições toda semana, também impacta negativamente na saúde. Todavia, mesmo diante deste cenário, os atletas optam por seguir essas condutas devido ao fato de que a performance absoluta é menos importante nas competições comparado à vantagem competitiva atribuída às categorias de peso inferiores ao habitual deles.
Nesse sentido, essa prática excessiva pode desenvolver doenças cardiovasculares, estresse e injúria renais e a diminuição do fluxo sanguíneo devido à redução de fluidos corporais e consequente diminuição do volume plasmático e do desequilíbrio da termorregulação. Além do mais, a pressão exercida para que o peso ideal seja atingido reflete em desordens alimentares, bem como em mudanças no humor, refletindo no aumento da ansiedade, braveza, fadiga, depressão e confusão; diminuição do vigor e da performance viso-motora e em alterações temporárias na estrutura cerebral, gerando declínios cognitivos e tornando a mente vulnerável e menos capaz de tomar decisões e de controlar os movimentos.
Ainda assim, mesmo diante desses malefícios, sabe-se que o tempo entre a pesagem e a competição permite com que os atletas reequilibrem os valores nutricionais, atenuando os possíveis sintomas apresentados, gerando respostas positivas à fisiologia e funções mentais antes comprometidas. Assim sendo, a redução aguda, de 2 a 3%, de fluidos ou a promoção intencional do suor provocada pelo exercício físico, por exemplo, podem ser recuperados neste período intermediário. Entretanto, perdas acima de 3% impactam substancialmente a saúde e performance.
Tendo isso em vista, a análise da necessidade da reposição de eletrólito, como o sódio e rehidratação podem ser feitas, sendo este por meio do consumo de 150% a mais de fluido comparado ao déficit gerado, os quais é feito em grande quantidade logo após a pesagem seguido de pequenos volumes regulares, sendo necessário manter a técnica de desidratação-hidratação para que o organismo entre em equilíbrio. Além do mais, a restauração dos estoques de glicogênio muscular é fundamental, sendo feita através de pequenas porções de carboidrato que distribuem o consumo de 1g/kg/h associadas a 20 – 25g de proteína.
As estratégias de recuperação entre a pesagem e a competição variam de acordo com o esporte praticado e do nível de perda de massa corporal alcançada pelo atleta. Sabe-se que os atletas de hipismo são os mais desafiados a se manterem dentro das estratégias, pois o protocolo exige a pesagem após o término da corrida. Já outros esportes permitem um período reduzido, no qual recomenda-se priorizar estratégias que beneficiarão a performance ou um período maior, chegando a 32 horas, no qual não há limite para o consumo de comidas e bebidas, os quais podem recuperar de 10 a 20% da massa corporal anteriormente reduzida para a hora da pesagem, a qual visava a adequação à categoria desejada. Nestes casos, deve-se analisar a digestão, absorção, restauração dos valores nutricionais, fluidos e estoques de glicogênio muscular tendo em vista a performance e conforto gastrointestinal para competir.
Sendo assim, mesmo diante das vantagens trazidas por esses métodos, como serem simples de aplicar, facilmente incorporados durante os treinos, os quais geram mínimos impactos negativos à saúde nutricional e mantêm a saciedade, desvantagens são observadas, como o desenvolvimento da fadiga, o aumento da sensação de sede, a perda de água corporal e consequentemente, disfunção cardiovascular e desequilíbrio eletrolítico.
Já a partir de 1960, o estado americano foi orientado a introduzir planos estratégicos para a perda de peso que estivessem dentro dos limites que visassem a saúde e performance. Contudo, muitos atletas continuaram adotando métodos inseguros, sendo necessária a expansão de implementações, como a determinação mínima de 5% de massa gorda para competir, proibição do emagrecimento rápido através de métodos inseguros e testes de hidratação antes da pesagem obrigatória. Além disso, outras estratégias foram a educação do atleta e aumento do número de categorias por peso ou trocar o critério por altura.
Contudo, diante da grande adesão às estratégias de rápida perda de peso, realizou-se recomendações que pudessem aproximar ao máximos esses atletas de uma rotina saudável, como através da seleção de categorias próprias a cada indivíduo para que eles não busquem mudar a composição corporal para se adequarem onde desejam e o desenvolvimento de uma visão crítica através de ensinos acerca das necessidades nutricionais durante o período de treinos e competições, desmotivando a prática de métodos não confiáveis.
Logo, a manutenção da massa corporal gera benefícios à saúde, porém a maneira com que é feita impacta positiva ou negativamente a saúde do atleta. Sendo assim, métodos que geram o déficit calórico crônico e as estratégias de rápida perda de massa corporal promovem o desenvolvimento de doenças, sendo cada vez mais desincentivados pelas instituições atléticas, as quais objetivam a saúde e performance adequada a todos os competidores.
Referência: BURKE, L. M. et al. ACSM expert consensus statement on weight loss in weight-category sports. Current Sports Medicine Reports, v. 20, n. 4, p. 199-217, 2021.