Estratégias Nutricionais para a Reabilitação de Lesões Musculo Esqueléticas em Atletas

Atletas de elite possuem uma agenda de competições exaustiva associada ao treinamento com altos volumes, resultando na redução da performance e no aumento da ocorrência de lesões. Estima-se que cerca de 3 a 5 milhões de lesões ocorrem por ano através da prática esportiva, sendo de forma prevalente durante as competições (72,2%) comparado aos treinos (21,8%).

Ainda assim, estudos mostraram o aumento de 6,2 vezes mais na ocorrência de lesões em jogadores de futebol que participaram de 2 jogos durante a semana comparado aos que competiram apenas de 1 jogo, sendo 76% dos casos resultantes da prática excessiva. Já no Campeonato Mundial, observa-se 81 em 1000 atletas que sofreram lesões durante as competições, principalmente musculoesqueléticas.

Dessa forma, estes atletas necessitam passar pelo processo de reabilitação, o qual ocorre em duas fases. Primeiramente, há a imobilização, atrofia e consequente reparação do tecido muscular, podendo durar dias ou meses dependendo da gravidade da região lesionada. Esta etapa pode regredir o condicionamento dos atletas devido redução do estímulo do movimento, resultando em um cenário catabólico e consequente perda de massa muscular, alterações musculares e de tecidos conjuntivos.

Ainda, sabe-se que a imobilização e o desuso dos músculos lesionados aumentam a resistência anabólica, resultando na atrofia e perda da força e de 0,5% massa muscular. Além do mais, os sistemas cardiovascular e respiratório são afetados, com a consequente perda de 0,99% do consumo máximo de oxigênio e de 1,6% do débito cardíaco em 2 semanas sem a prática do movimento. Dessa forma, desenvolve-se uma disfunção mitocondrial com consequente aumento de radicais livres e da resposta inflamatória e o desequilíbrio na síntese e degradação proteica através da inibição de vias anabólicas, impactando a recuperação e aumentando os riscos para novas fraturas.

Já o segundo estágio corresponde à readaptação aos treinos e melhora do perfil psicológico dos atletas, como de seu nível emocional, pois é possível analisar as mudanças neuronais e cognitivas relacionadas ao córtex cerebral, por exemplo. Dessa maneira, sabe-se que a introdução da mobilização e do estímulo dos movimentos, a qual respeite os períodos de descanso e atividade, apresentam efeitos positivos na reorganização do colágeno e da recuperação do tecido conectivo danificado.

Além disso, esta reabilitação envolve a área da fisioterapia e da medicina do esporte através de práticas, como do aquecimento ou resfriamento da região, massagem e exercícios isométricos, uso de medicamentos anti-inflamatórios e relaxantes musculares e de intervenções cirúrgicas.

Todavia, também observa-se o impacto da nutrição e da suplementação durante as diferentes etapas de recuperação das lesões no músculo esquelético dos atletas, pois são capazes de acelerar e proteger a reparação dos tecidos lesionados, além de modular o sistema imune por meio do controle dos processos de catabolismo e inflamação desencadeados através da regulação dos níveis de espécies reativas de oxigênio e de vias catabólicas e impedir a regressão do processo de reparação tecidual por meio do consumo adequado dos nutrientes pelo atleta.

Sendo assim, estudos mostram a importância do consumo adequado de proteína, melhorando as respostas das células satélites após o dano agudo muscular, o qual é importante na remodelação e nos processos de recuperação pós-lesão, pois a síntese proteica muscular (SPM) apresenta-se menor após a imobilização, como visto em um estudo que mesmo através do consumo de 20g de proteína ainda se obteve 31% menos de síntese em atletas lesionados. Além do mais, nota-se que a distribuição homogênea desta proteína durante as refeições do dia é mais favorável, aumentando 25% de seu impacto positivo sobre a massa muscular e que seu consumo antes de dormir pode ser outra estratégia importante durante períodos de lesão. Sendo assim, recomenda-se o consumo adequado de proteína durante o dia para a prevenção da perda de massa muscular durante o período de imobilização.

Outro fator essencial é o consumo energético, o qual deve estar equilibrado em relação às necessidades dos atletas durante o período de recuperação. Sabe-se que mesmo através da redução da movimentação, há o aumento de 20% na utilização de energia durante as primeiras fases do processo de reparação da região lesionada, principalmente em lesões graves.Estudos mostraram o aumento das necessidades energéticas em 485 kcal/d em homens e de 120 kcal/d em mulheres idosas devido aumento da SPM. Ainda, um déficit calórico de 20% pode reduzir a SPM em 19%, resultando na perda de massa magra e consequentemente, prejudicar o processo de reabilitação do atleta.

Portanto, devido este impacto, recomenda-se que o consumo energético esteja por volta de 45 kcal/massa livre de gordura/d, evitando a Deficiência Energética Relativa (RED’s), a qual é capaz de comprometer as funções do organismo necessárias para performance, saúde e recuperação.

O impacto de alguns outros nutrientes como potenciais eficazes na melhora da reparação do tecido lesionado tem sido estudado e observa-se que a suplementação de 0,1g/kg/d de creatina mantém a massa e força muscular e beneficia o tempo de recuperação dos atletas lesionados, impactando positivamente na melhora e no aumento de 24% dos seus estoques em atletas com lesões agudas, falta de mobilidade ou atrofia pelo desuso muscular.

Além disso, a suplementação de vitamina D regulou a expressão de genes das fibras musculares, principalmente do tipo II e reduziu biomarcadores do dano muscular e de citocinas pró-inflamatórias, estando sua deficiência relacionada ao aumento dos riscos para lesões, distensões e fraturas pelo estresse.

Já o consumo de anti-inflamatórios, como de vitamina C, E e de ômega-3, como EPA e DHA estão associados à redução da inflamação aguda, a qual é essencial para recuperação. Contudo, apresentam efeitos positivos em doses corretas e recomenda-se uma dieta com baixa relação de ômega-6 para ômega-3.

A suplementação de peptídeos de colágeno e produtos à base de gelatina parecem ser beneficiais para sua síntese no organismo podendo prevenir as lesões e beneficiar a reparação dos tecidos e a funcionalidade das juntas e de sua dor. Por fim, a suplementação de melatonina também possibilitou uma proteção neural com boa correlação com a reabilitação.

Logo, estratégias nutricionais podem, em sua maioria, ser benéficas para a reabilitação dos processos relacionados à recuperação dos atletas lesionados, observando a importância de manter uma dieta com uma oferta energética equilibrada, evitando o RED’s e  deficiência proteica, contribuindo para a manutenção da massa magra.

 

Fonte: GIRALDO-VALLEJO, J. E. et al. Nutritional strategies in the rehabilitation of musculoskeletal injuries in athletes: A systematic integrative review. Nutrients, v. 15, n. 4, p. 819, 2023.

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